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Post do mês de julho de 2025:

As últimas polaroids dos senhores do tempo na América Latina No último post, havíamos analisado os vinte e quatro números da revista Elegância e Precisão, que servia à sua época como um verdadeiro Caderno do Importador de relógios suíços e de diamantes do e para o Brasil. Relembramos aqui que o Brasil, em 1968, era o terceiro maior importador desta indústria (vol. 103, 1968, pg. 94). Reitero, logo no início deste post, que acho o setor relojoeiro particularmente interessante por servir de um exemplo da globalização suíça no Sul global – possivelmente neocolonizador, mas sempre dependente do imperialismo estadunidense. Não por nada, os Estados Unidos permanecem os maiores consumidores de relógios suíços no mundo. Vol. 164, 1978, pg. 34  vol. 136, 1973, pg. 26 Vol. 164, 1978, pg. 31 Como entender o Brasil como o lugar da produção? Ou: O que pode significar a Zona Franca de Manaus para empresas relojoeiras suíças? (Vol. 168, 1979, pgs. 19 & 22-23)  Vale, portanto, analisarmos uma outra revista da mesma leva, que é, desta vez, dedicada à América Latina. O escopo da análise aqui presente é obviamente reduzido quando nos deparamos com os 228 números desta publicação. Por este motivo, não alego que iremos analisar a revista, mas apenas apresentar a/o leitor/a algumas polaroids dos senhores do tempo na América Latina. Nosso foco não é necessariamente em uma análise do discurso, mas puramente da imagem. As observações do último post sobre as relações de gênero na indústria, ao menos das hipóteses que podemos levantar sobre estas através do marketing vigente no período citado, serão deixadas um pouco de lado no atual post. Claro que é impossível não ver gênero na nova revista sendo analisada: Suas colunas de piadas ainda estão repletas de contos sobre invenções de relógios uteis ao patriarcado. Por exemplo, nos deparamos com um relógio que “prevê” o estado de espírito de um marido através da medição do tempo no qual o tal marido abre a porta em sua chegada à casa (1942, p. 13). Ou ainda, um relógio que mede o tempo real de um casamento infeliz versus o tempo em um affair com uma mulher bonita. Ou ainda, um processo de cravagens de nomes invisíveis na aliança que é tão inovador que permite a sua reutilização em um segundo casamento (vol. 3, 1942, p. 13). Há, até mesmo, uma piada sobre feminicídios (aonde o feminicida, havendo matado a família toda, inclusive a sogra, utiliza da ausência da sogra em sua nova vida para sua própria defesa – como indicador de quão coitado ele é, já que, “nem sogra tem” (1942, vol. 2, p. 13). Do mesmo jeito, tomamos também a decisão de deixarmos um pouco a crítica descolonial do post atual, ainda que esta seja tão evidente, principalmente quando a revista preza, na ocasião da celebração dos 650 anos da Constituição suíça em 1941, as formas nas quais a “dura vida nas montanhas, do clima e do trabalho árduo (haveria) forma(do) a resistência física e moral insuperável do povo suíço.” (vol. 1, 1942, p. 24). Até mesmo o interesse marxista cede no atual post. Obviamente, é interessante lermos sobre como as exportações são limitadas dentro e fora da Europa durante a guerra – que é, por sinal, um outro divisor de águas na história da indústria relojoeira suíça – devido ao controle de carvão e ferro, que levaria até mesmo a coleta de objetos em metal em desuso na Suíça (vol. 1, 1942, p. 32). E interessante reencontrarmos nas páginas da tal revista latinoamericana publicidades bancárias alertando importadores sobre as restrições bancárias entre a Suíça e a Argentina vigentes durante a guerra (vol. 2, 1942, p. 7). De modo geral, é de interesse publico ler sobre a parceria histórica entre o complexo militar industrial e a indústria relojoeira, ao exemplo de como relógios suíços são utilizados pela Marinha espanhola (Vol.127, 1972, pg. 21) ou em missões espaciais, dentre muitos outros, para os quais este post não teria possibilidade de dar o devido espaço. Marxistas estariam ainda talvez mais interessado/a/s em ler sobre como a Secretaria de Comercio dos EUA já conduzia estudos sobre as quantidades de reservas de ouro na América Latina (vol. 3, 1942, pg. 18). Ou na mesma verve, que comerciantes de diamantes são retratados na edição latino-americana da revista como cidadãos de uma quase-nação, seguindo seus próprios interesses e leis, na qual confiança mútua e “um aperto de mãos pode valer milhões” (vol. 147, 1975, pg. 77): Comerciantes de diamantes na bolsa da Antuérpia. (Vol. 147, 1975, pg. 73)  De uma romantização da guerra no passado distante… (Vol. 91, 1966, pgs. 50-51) … a uma romantização da guerra naquele presente. (Vol. 131, 1972, pg. 11) Ainda sobre a globalização suíça. (Vol. 1942, pg. 11 Inicialmente chamada La Revista Relojera (1942-1948), a revista foi rebatizada com o nome Estrella del Sur (1952-1965), se tornando Europa Star em 1966 até o fim da sua publicação em 1979. A análise que aqui segue, de uma revista que já é mais abrangente no seu escopo geográfico, é muito mais superficial: dos seus 228 números, analisamos com afinco apenas os 54 que foram publicados nos anos 1970. O foco nos anos 70 é minha escolha, já que é nesta década que a indústria relojoeira suíça é abatida por uma revolução industrial ligada a proliferação de relógios eletrônicos que funcionam sob a tecnologia quartz. Neste período, estes relógios vêm principalmente do Japão e da Coréia do Sul.  Basta pensarmos, por exemplo, nas marcas Casio, Technos, Seiko ou Mikaido. Por sinal, estas empresas começam neste período a investir pesado no marketing dos seus produtos na Europa Star (ver vol. 167, 1979, pg. 48; Vol. 162, 1978, pg. 19). Os efeitos da competição asiática na Suíça são claros: no país, a indústria padece sob uma crise empregatícia (ver vol. 153, 1976, pg. 21), que dá margem a um paro parcial de trabalhadores/as, confrontados/as com a introdução estrutural de jornadas de trabalho reduzidas. Até nas páginas da EuropaStar, observamos como as práticas de outsourcing